Pós-doutorando da FACEPE publica artigo sobre ecologia de carrapatos associados a ambientes cavernícolas

Com uma abordagem inédita para o Brasil, o Dr. Eder Barbier, bolsista pós-doc FACEPE, o Dr. Enrico Bernard (ambos do Departamento de Zoologia da UFPE) e o Dr. Filipe Dantas-Torres (Departamento de Imunologia da FIOCRUZ) publicaram um artigo sobre aspectos ecológicos de carrapatos do gênero Antricola (família Argasidae).

Na natureza, carrapatos do gênero Antricola são comumente encontrados parasitando morcegos cavernícolas ou no ambiente onde esses mamíferos usam como abrigo diurno. As larvas desses carrapatos se alimentam do sangue de seus hospedeiros. Os indivíduos adultos, por sua vez, permanecem no substrato e paredes dos abrigos desses morcegos e ali buscam alimento.

Para o estudo, os pesquisadores monitoraram mensalmente, pelo período de um ano, uma caverna localizada no Parque Nacional do Catimbau, na Caatinga de Pernambuco. Para verificar se os carrapatos estavam presentes durante todo o ano, os pesquisadores realizavam buscas dentro da caverna para localizá-los e coletá-los. Em laboratório, os carrapatos eram identificados morfologicamente, contados e separados em machos e fêmeas (no caso dos adultos). Além disso, os autores do estudo queriam saber se o número de carrapatos dentro da caverna variaria de acordo com a abundância de morcegos ali abrigados, e com a oscilação das médias de temperatura e umidade naquele ambiente.

Dos 490 carrapatos coletados, 272 eram imaturos (ninfas) e 218 adultos — os quais foram identificados como Antricola guglielmonei. Entre os adultos, 169 eram machos e 49 fêmeas. Os carrapatos foram encontrados a aproximadamente 150 metros da entrada da caverna, exclusivamente em uma câmara onde havia grande número de morcegos insetívoros das espécies Pteronotus gymnonotus e Pteronotus personatus (família Mormoopidae). Este fato indica haver uma forte associação ecológica entre as espécies em questão. No total, 96,5% dos carrapatos foram encontrados durante a estação seca (entre julho de 2014 e fevereiro de 2015) e apenas 3,5% na chuvosa (entre março e junho de 2015).

Caverna localizada no Parque Nacional do Catimbau, PE, onde as atividades de campo da pesquisa foram realizadas. A: Entorno da caverna; B: Entrada da caverna; C: Câmara da caverna onde os carrapatos foram encontrados; D: Vários carrapatos agregados na parede da caverna. Créditos das fotos: Eder Barbier (A e D) e Narjara Tércia Pimentel (B e C). Fonte: Barbier, E., Bernard, E. & Dantas-Torres, F. 2020. Ecology of Antricola ticks in a bat cave in north-eastern Brazil. Experimental and Applied Acarology (https://doi.org/10.1007/s10493-020-00544-9).

Caverna localizada no Parque Nacional do Catimbau, PE, onde as atividades de campo da pesquisa foram realizadas. A: Entorno da caverna; B: Entrada da caverna; C: Câmara da caverna onde os carrapatos foram encontrados; D: Vários carrapatos agregados na parede da caverna. Créditos das fotos: Eder Barbier (A e D) e Narjara Tércia Pimentel (B e C). Fonte: Barbier, E., Bernard, E. & Dantas-Torres, F. 2020. Ecology of Antricola ticks in a bat cave in north-eastern Brazil. Experimental and Applied Acarology (https://doi.org/10.1007/s10493-020-00544-9).

Os resultados da pesquisa mostraram ainda que, ao longo do período estudado, a abundância de carrapatos dentro da caverna foi negativamente afetada na medida em que a umidade relativa média do ar da caverna aumentava. Por outro lado, não houve correlação (nem negativa, nem positiva) com a temperatura média ou com o tamanho da colônia dos morcegos. Além disso, os autores do estudo observaram que os carrapatos adultos eram menos móveis, sendo encontrados aglomerados nas frestas das paredes da caverna. Os imaturos, por sua vez, eram mais ativos, deslocando-se pelas paredes e teto.

O estudo aponta, ainda, que pesquisas envolvendo a biologia e/ou a ecologia de carrapatos Antricola são amplamente escassas. Entretanto, em um estudo recente na região da Amazônia brasileira (realizado por outro grupo de pesquisadores), foi reportada uma alta diversidade de vírus associados ao carrapato Antricola delacruzi. Neste contexto, o Dr. Barbier e os coautores pontuaram no artigo que apesar do papel desses carrapatos como vetores de patógenos para morcegos (e eventualmente para humanos) ainda permaneça desconhecido, investigações sobre sua dinâmica populacional ao longo do ano, proporção sexual e resposta às variáveis ambientais, por exemplo, são importantes para subsidiar pesquisas futuras acerca deste tema e de seu possível impacto nas populações de morcegos e outros animais, não excluindo os humanos.

O artigo, intitulado “Ecology of Antricola ticks in a bat cave in north-eastern Brazil”, foi publicado no periódico Experimental and Applied Acarology (Qualis A2) e pode ser acessado em: https://rdcu.be/b68JG