Entrevista – Estado se destaca no segmento de CT&I e atrai empresários, afirma secretário de C&T de Pernambuco

Recife, sexta-feira, 19 de julho de 2013

A capital de Pernambuco pode ser considerada neste ano a sede das principais discussões de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no Nordeste. A cidade já recebeu um dos encontros preparatórios para o Fórum Mundial da Ciência e será sede de mais três grandes eventos do setor: a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o 23° Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e a 30ª Conferência Mundial de Parques Tecnológicos.

Em entrevista, o secretário de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Marcelino Granja, explica como o estado vem se destacando no segmento de CT&I, conta detalhes de como foi articulada a criação do Porto Digital, fala sobre os investimentos futuros planejados pelo governo e conta o porquê de as empresas desejarem se instalar na região.

Secretário de C&T de Pernambuco acredita que Recife atrai empresas e eventos do setor por causa das políticas públicas. Por que o estado tem sido lembrado para sediar grandes encontros de CT&I?

Os investimentos realizados em tecnologia pelo governo do estado, empresas privadas e academia, ao longo das últimas décadas, fizeram com que Pernambuco se consolidasse como um ambiente de inovação. O estado se tornou uma região atrativa para empresas, instituições, técnicos capacitados, executivos e acadêmicos.

Em quais áreas o estado tem se destacado na atração de investidores?

Temos vários habitats de inovação em Pernambuco. O Porto Digital, por exemplo, ampliou sua área territorial e conceitual abrangendo, além da tradicional tecnologia da informação e comunicação (TICs), a economia criativa, que é um setor muito promissor para o futuro do Brasil.

O Parque de Eletroeletrônica (Parqtel) está prestes a começar suas atividades. Também contamos com várias incubadoras de empresas e a concepção de novos parques, como o de metalomecânica e o de fármacos e biociências, além dos polos de desenvolvimento, como o farmacoquímico e o do gesso. Tudo isso para suprir as futuras demandas do mercado.

Essas ações são observadas pelos atores econômicos e tecnológicos e faz de Pernambuco uma bacia de atração para a dinâmica do crescimento. Todos querem estar perto do local onde as coisas estão acontecendo. Torna-se um ciclo virtuoso reforçando esse contexto político e econômico propício para o desenvolvimento tecnológico e debates entre empresários, pesquisadores, gestores públicos, sociedade civil organizada e a população de uma forma geral.

No estado, há quantos institutos de pesquisas instalados?

Há pelo menos nove institutos públicos de pesquisa que vêm desenvolvendo papéis importantes há muitos anos e que ajudaram a configurar a atual conjuntura de ciência, tecnologia e inovação no estado. Um deles é o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), que é focado na pesquisa, desenvolvimento e produção de bens e serviços agropecuários. O IPA ainda desenvolve atividades de assistência técnica, extensão rural e de infraestrutura hídrica.

Atualmente, o instituto integra o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), coordenado pela Embrapa. O Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP), por sua vez, é uma referência regional em soluções tecnológicas para o setor produtivo, com atuação bem diversificada.

Também funcionam os instituto de Fotônica (INFo); o de Nanotecnologia para Marcadores Integrados (Inami); o de Ciência e Tecnologia para Engenharia de Software (Ines); o de Ciência e Tecnologia Virtual da Flora e dos Fungos; e o de Ciência e Tecnologia de Inovação Farmacêutica (INCT-IF)

O Porto Digital é, talvez, o cartão de visitas do estado em ações de P&D. Como surgiu a ideia de criá-lo e quanto foi investido?

A iniciativa de criar um ambiente de negócios surgiu em 2000 quando o governo, empresas de telecomunicações e empresas privadas decidiram investir R$ 44 milhões para criar a infraestrutura do Porto Digital. O polo de tecnologia da informação (TI), que desenvolve soluções de TIC já se desenvolvia desde a década 1970. Naquele momento, o estado decidiu fomentar o desenvolvimento de um ambiente institucional e geográfico para o qual convergissem os principais atores do processo.

Os investimentos continuaram ocorrendo com o passar dos anos, o que garantiu estabilidade. No atual governo, o Porto Digital continuou sendo uma prioridade. Em 2010, por exemplo, a Secretaria de Ciência e Tecnologia (Sectec) assinou um contrato de gestão com o Núcleo Gestor do Porto Digital (NGPD) no valor de aproximadamente R$ 11 milhões até 2015.

Com a garantia desses recursos, o Porto Digital pode assinar novos contratos com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), ampliando a quantia para R$ 32 milhões. Esse valor se soma a outros aportes feitos pela Sectec e pelo governo federal, no Porto Digital, que hoje capitaneia 39 projetos, totalizando R$ 120,4 milhões investidos em P&D.

A qual motivo vocês atribuem o sucesso do Porto Digital?

O Porto Digital é o resultado de uma articulação virtuosa e bem-sucedida entre a academia e o poder público que atrai o empresariado para formar as engrenagens da inovação em TICs e, mais recentemente, em economia criativa. O Porto Digital é um território que concentra empresas de alto nível e que tem um próprio núcleo gestor para facilitar as interações entre os três setores (academia, governo e empresas).

Ele se consolidou com a decisão dos governos estadual e municipal de viabilizar a autossustentabilidade do NGPD. O governo do estado mantém uma encomenda de políticas ao NGPD, por meio da Sectec que sempre viabiliza a captação de recursos federais com contrapartidas nos projetos apresentados.

O estado é referência no mercado de tecnologias da informação e comunicação (TICs). Por que os esforços do governo de Pernambuco foram direcionados para essa área?

O governo de Pernambuco despertou cedo para a necessidade de investimentos na área de TICs ao observar que esse setor de serviços poderia auxiliar na mudança do paradigma econômico local, antes voltado para a agroindústria.

Esses investimentos foram responsáveis por mudanças econômicas e sociais que estão gerando riqueza, emprego e renda para a população local. Mas, ao contrário do que se possa pensar, essas novas tecnologias também estão ajudando os setores tradicionais a se desenvolverem. Existe um programa, encomendado pelo governo, chamado “Porto Desembarca” que é justamente para levar soluções em TI para os setores tradicionais da economia pernambucana.

Hoje, o Porto Digital congrega 130 empresas com 4,4 mil profissionais e um faturamento de cerca de R$ 450 milhões. Entre os segmentos de TICs desenvolvidos dentro do Porto Digital destacam-se as produções de softwares para gestão; soluções para o sistema financeiro e de saúde; games; softwares para o setor de segurança; sistemas para gerenciamento de tráfego e transporte; usabilidade de software; e soluções integradas para desenvolvimento de portais, extranets e intranets.

No fim de maio, foi inaugurado o Centro de Inteligência Competitiva de Parques Tecnológicos (Cictec). Como essa iniciativa vai funcionar?

O centro é resultado de um investimento total de R$ 3 milhões e tem como função observar as novas tendências tecnológicas e mercadológicas globais a fim de prover informações qualificadas para ajudar as empresas do Porto Digital (PD) e do Parque Tecnológico de Eletroeletrônica de Pernambuco (ParqTel).

Por meio das informações repassadas pelo programa, os empresários poderão adaptar seus negócios a novas realidades e ampliar seus horizontes e potencial competitivo. O centro terá uma agenda de trabalhos que inclui seminários e oficinas, divulgação de boletins eletrônicos periódicos, apoio na elaboração de projetos competitivos e captação de recursos para contribuir na estruturação, gestão e crescimento de um ambiente de classe mundial.

A Sectec tem promovido alguma iniciativa com as instituições de pesquisa para achar soluções inteligentes para os problemas de infraestrutura, principalmente em período de chuvas?

O Laboratório de Meteorologia do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Lamep/Itep), vinculado à Sectec, tem desempenhado importante papel de prevenção de catástrofes provocadas pelas chuvas fortes que atingiram o estado de Pernambuco nos últimos anos. Graças ao trabalho de previsão do laboratório várias vidas foram salvas durante as chuvas que destruíram vários municípios da Região Metropolitana e Zona Norte do estado, em 2010. Quando o cenário de desastre foi captado pelo Lamepe, naquele ano, a Defesa Civil de Pernambuco foi avisada, fez o alerta para a população e retirou milhares de pessoas das áreas de risco.

O Laboratório também produz duas previsões de tempo diárias e para os três dias subsequentes, com dados por mesorregião, incluindo temperaturas máxima e mínima, direção e velocidade dos ventos e umidade relativa. Esses dados são disponibilizados na internet. Por outro lado, outras secretarias estaduais estão investindo na construção de barragens na Zona da Mata Norte, que deverão resolver por definitivo o problema com as chuvas naquela região, e no atendimento a população do estado.

 Fonte: Agência Gestão CT&I de Notícias