Revista Nature Genetics publica artigo de pesquisadores da UFPE sobre novo gene para doença neuropsiquiátrica

Recife, quinta-feira, 05 de setembro de 2013

Um artigo publicado na revista Nature Genetics, disponível na versão online do dia 4 de agosto, descreve, pela primeira vez, mutações no gene PDGF-B (platelet derived growth factor Beta) em famílias de portadores de calcificações cerebrais. O PDGF-B é um fator de crescimento celular envolvido em vários tipos de tumores de mama, ovário, cérebro e pulmão.

Intitulado “Mutations in the gene encoding PDGF-B cause brain calcifications in humans and mice”, o texto foi produzido pelo Doutor João Ricardo Mendes, professor do departamento de neuropsiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA – UFPE) em coautoria com o doutorando José Eriton Gomes da Cunha, e a Drª Roberta Lemos.

As mutações mostram pela primeira vez que um gene antes ligado à formação de tumores pode estar relacionado à formação das calcificações cerebrais. Este é o terceiro gene já descrito para esta doença e que é responsável pela integridade da barreira hematoencefálica, uma espécie de “filtro” que permite a seleção de diversos metabólitos na passagem da corrente sanguínea para o tecido cerebral.

“Foi uma descoberta bastante relevante, por documentar pela primeira vez mutações em um gene importantíssimo para diversos tipos de tumores malignos, só que agora sendo herdadas por famílias com calcificações cerebrais. O artigo terá grande repercussão para a pesquisa básica e aplicada”, explica Doutor João Ricardo.

As calcificações cerebrais encontram-se mais frequentemente em cérebros de idosos e podem levar a sintomas neuropsiquiátricos diversos, tais como parkinsonismo, cefaleia, sintomas psicóticos e demência. “O PDGFB atua na formação dos novos vasos (angiogênese) e neste caso se acredita serem particularmente importantes na formação da barreira hematoencefálica, que funciona como um verdadeiro filtro durante a passagem de nutrientes do sangue para o cérebro”, diz o pesquisador.

De acordo com o artigo, compreende-se que este gene é mais versátil do que se imaginava. No caso dos tumores, as mutações sofridas no PDGFB são do tipo “ganho de função”, onde a nova proteína formada é até mais potente, elevando o efeito multiplicador celular e levando ao Câncer.

“A maioria das mutações afeta o rendimento de enzimas e proteínas, causando comprometimento ou perda de função. Já outras levam à potencialização do efeito da proteína ou enzima, o que não é necessariamente bom, pois pode alterar o equilíbrio metabólico ou levar à proliferação celular ilimitada, levando ao Câncer”, explica João Ricardo.

Segundo ele, no caso dos achados deste trabalho houve perda de função na proteína expressa, levando às calcificações cerebrais. “A pergunta que nos fazemos é: seriam estes pacientes menos susceptíveis a tumores? Seria este um fator de proteção para o Câncer?”, questiona João Ricardo, complementando que este trabalho trouxe, também, o primeiro modelo ideal para as calcificações cerebrais, já que um camundongo nocaute, estudado já há anos como modelo de alterações vasculares, mostrou também ser portador de calcificações cerebrais, principalmente depois dos quatro meses de vida. Camundongos de dois anos mostraram extensas calcificações.

O artigo publicado é parte de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), por meio de dois editais de Auxílio a Projetos de Pesquisa – APQ (2008 e 2012). Os coautores, José Eriton Gomes da Cunha e Drª Roberta Lemos são, respectivamente, estudante de doutorado na UFPE (bolsista da Facepe) e pós-doutoranda em São Tiago de Compostela, na Espanha.

É importante notar que, como autor senior, encabeçando o final da lista de autores, o Brasil figura na liderança de um artigo com muitos colaboradores de tantos países, incluindo pesquisadores renomados da Alemanha, Estados Unidos, Suíça, Suécia, Espanha, França, Sérvia, Canadá e Irã.

Nos artigos científicos há duas posições mais importantes na sequência de autores e coautores. “O primeiro da lista é aquele participante que mais ‘botou a mão na massa’ na execução dos experimentos. Já o último é o pesquisador coordenador do estudo e líder principal. Nós ficamos, então, com uma das mais importantes posições – o que é difícil em um trabalho com quase 50 coautores – e mostra a liderança do nosso grupo neste processo”.

João Ricardo Mendes de Oliveira é consultor da National Organization for Rare disorders (EUA) e do Genetics Home Reference (NIH-EUA), possui Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria, além de ser sócio das SBG (Sociedade Brasileira de Genética), da Sociedade Israelita de Neurociências. Foi nomeado Fellow da Fundação John Simon Guggenheim em 2010.

“Estamos todos muito felizes com esta publicação, e agradecemos muito o apoio da Facepe e também da direção do LIKA – na figura do Professor José Luiz -, fundamental para esta realização.