Projeto apoiado pela Facepe e Secti fortalece parceria com a Polícia Científica e alcança mais de 90% de acerto na identificação de sangue em cenas de crime

05.08.2025 THOMAS TRIBUTINO

Tecnologia de baixo custo, baseada em câmeras de celular, alia inovação à sustentabilidade e pode transformar o trabalho pericial

Desde 2022, uma colaboração estratégica entre a Polícia Científica de Pernambuco e pesquisadores vinculados à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) vem gerando resultados expressivos para a área de perícia forense. Com apoio da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) e da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), por meio de dois importantes editais de fomento, o projeto desenvolveu uma metodologia inovadora e de baixo custo, capaz de identificar vestígios de sangue em cenas de crime, distinguindo se o sangue é humano ou animal, com mais de 90% de precisão.

Coordenado pelo professor Vagner Bezerra dos Santos (UFPE), o projeto conta com a participação de Thomas Tributino, bolsista da Facepe, que desenvolveu suas pesquisas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQuímica) da UFPE. Durante o curso de mestrado, Thomas se dedicou ao desenvolvimento de um método capaz de identificar a presença de sangue humano em cenas de crime a partir de vídeos gravados com câmeras de celular. Os testes realizados em laboratórios da UFPE e da Polícia Científica de Pernambuco demonstraram uma taxa de acerto de 90,30%, com apenas quatro erros identificados. Além disso, o método permitiu estimar o tempo de deposição das amostras de sangue, com uma margem de precisão de 3,6 dias.

“Desde a concepção do projeto, alinhamos com a Polícia Científica de Pernambuco. A Facepe sempre priorizou projetos com aplicação prática em instituições públicas, e esse alinhamento foi essencial”, destaca o coordenador Vagner Bezerra dos Santos.

O projeto foi contemplado em dois editais da Facepe: o Edital nº 29/2022 – Pesquisadores Emergentes e o Edital Universal nº 18/2024. O primeiro é voltado a grupos iniciantes no cenário estadual de pesquisa; o segundo, de ampla concorrência, reafirma a maturidade e a relevância científica do trabalho desenvolvido.

O financiamento garantiu os insumos e equipamentos necessários à realização da pesquisa, além de permitir o fortalecimento de uma rede colaborativa interinstitucional. Além da Polícia Científica, da UFPE e da UFRPE, o projeto contou com a parceria da UERJ, reunindo instituições locais, regionais e nacionais. “Buscamos sempre propostas robustas, com diferentes expertises, capazes de tornar os resultados mais ambiciosos e aplicáveis”, reforça o coordenador.

O diferencial do projeto está na possibilidade de uso de tecnologias acessíveis, como câmeras de celular, aliadas a técnicas químicas avançadas, tornando o método promissor para aplicação por órgãos como o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

“Foi um trabalho construído por uma equipe altamente qualificada. A Facepe tem um papel fundamental nesse processo, pois investe em ciência feita em Pernambuco, com resultados concretos. E isso se reflete na formação de alunos, no avanço das instituições e no fortalecimento de políticas públicas”, conclui Vagner Bezerra dos Santos.

Com um olhar voltado para o futuro, Thomas Tributino ainda planeja aprimorar a pesquisa para que o método desenvolvido possa ser utilizado de forma efetiva. “O método vai continuar sendo melhorado. A câmera foi um protótipo e, mais adiante, será construída com impressora 3D. Vamos aprimorá-lo cada vez mais para que se torne, de fato, uma ferramenta utilizada pela Polícia Científica.” Além disso, ele pretende integrar a captura dos vídeos com ferramentas de Inteligência Artificial (IA), reduzindo a etapa computacional.

Ao mesmo tempo em que  reduz os custos com a produção de câmaras especializadas, o método também se enquadra nos princípios da Química Verde, que incluem, entre outros aspectos, a redução de resíduos e a busca pela eficiência energética. “A câmara foi construída com material reciclável, como papelão. Também conseguimos reduzir significativamente o uso de reagentes, cerca de 100 vezes, pois utilizamos duas técnicas, diluição e uso de micro volumes (5-10 microlitros)”, explica Thomas.

A Química Verde tem alguns princípios que devem ser atendidos para que um método seja considerado ‘verde’, e a instrumentação já cumpre dois deles. O próprio método, por consumir menos recursos e não demandar energia elétrica, também contribui com esses princípios”, ressalta Thomas, que concluiu o mestrado.