Bolsista FACEPE (BFT) cria modelagem em 3D de organismos do zooplâncton afetados pelo derramamento de óleo de 2019

Figura_plate

A sociedade está cada vez mais marcada pelas consequências da ação antrópica na natureza. Desastres ambientais, como o derramamento de petróleo, inicialmente registrado no fim de agosto e início de setembro de 2019 na costa do Nordeste do Brasil trouxe impactos negativos diretos sobre sensiveis ecossistemas costeiros como estuários, maguezais e recifes de corais, bem como sobre a macro e microfauna associada a estes ambientes. O zooplâncton é constituído por organismos microscópicos, tornando difícil o acesso e o conhecimento pelo público geral, uma vez que requer a utilização de equipamentos ópticos para visualização. Este ocupa uma posição chave nas redes alimentares, principalmente por serem alimento de importantes espécies de peixes de importância comercial. Esses organismos apresentam um curto ciclo de vida, o que os tornam excelentes indicadores de alterações naturais e antropogênicas. Além disso, muitas espécies de importância econômica (peixes, caranguejo, camarão e lagosta) passam as primeiras fases do seu ciclo de vida no plâncton, logo qualquer impacto nessas fases iniciais tem consequencias negativas sobre os estoques e a sustentabilidade pesqueira das áreas afetadas.

Recentemente, pesquisadores do departamento de Oceanografia da UFPE, liderados pela professora Sigrid Neumann Leitão, publicaram um estudo em uma importante revista internacional a Marine Pollution Bulletin, mostrando o impacto invisivel do óleo sobre os organismos do zooplâncton. Os pesquisadores mostraram que o óleo havia sofrido intemperismo e estava fragmentado em importantes ecossistemas costeiros de Tamandaré – Litoral Sul de Pernambuco. Além disso, o estudo mostrou evidencias de ingestão desse óleo pelo zooplâncton, estando os organismos sujeitos a injúrias físicas e biológicas, mortalidade, redução da natação, aumento das chances de serem predados, além do fato dos hidrocarbonetos de petróleo poderem ser biomagnificados ao longo da teia trófica marinha. No entanto, pouco é informado a população em geral sobre estes organismos, sobretudo pela limitação do tamanho do zooplâncton, como também pouco é informado como um impacto dessa magnitude, como o registrado pela presença do ´derramento do óleo sobre estes pequenos seres pode afetar o funcionamento dos ecossistemas marinhos e a vida marinha como um todo.

A falta de informação é o principal agente do agravamento dos impactos ambientais, visto que a maior parte da população não tem consciência de que também é parte integrante do meio ambiente e que, assim como a diversidade biológica, a sua qualidade de vida também é afetada pelos problemas ambientais. Desta forma, o projeto financiado pela FACEPE, na modalidade de BFT (bolsa de fixação de técnico): Desastre Ambiental do óleo bruto em Ecossistemas Costeiros de Pernambuco: A Modelagem e a Impressão 3D como Estratégia de Popularização do Conhecimento Científico objetivou realizar a modelagem e a impressão 3D do zooplâncton para ser utilizado como recurso didático pedagógico nas ações de popularização científica desenvolvidas no Museu de Oceanografia da UFPE (MOUFPE) e em ações externas de divulgação científica A popularização do conhecimento científico se fundamenta na perspectiva do diálogo, da horizontalidade das relações, na legitimidade dos diferentes saberes (e não apenas do saber científico). Assim, foram produzidos um total de doze modelos, pertencentes a Subclasse Copepoda, Ordem Decapoda, Filo Mollusca (Gastropoda e Cephalopoda), Ordem Siphonophora, Filo Cnidaria, Filo Ctenophora, Filo Chordata, Filo Chaetognatha e a Superclasse Peixes e atualmente estão compondo o acervo do MOUFPE (Figura 1).

Durante as ações de popularização do conhecimento científico os modelos são expostos e as conversas são direcionadas objetivamente para responder as perguntas: “O que pesquisamos?”; “Como pesquisamos?”; “O que estamos obtendo como resultados a respeito do impacto do óleo a curto, médio e longo prazo sobre a comunidade zooplanctônica das áreas costeiras afetadas pelo desastre?”. Além disso,
é realizado uma demonstração comparativa das modificações morfológicas que alguns grupos sofrem enquanto larvas (exemplo larva de caranguejo – Zoea de Brachyura) no plâncton e quando adulto no ambiente bentônico. São destacados também, os organismos cujo traço de ingestão de óleo foi identificado no trabalho publicado na Marine pollution e mencionado no texto acima e por fim o público é convidado a visualizar em microscópio o exemplar em seu tamanho realístico. Desta forma, os modelos 3D do zooplâncton produzidos representam atualmente uma importante ferramenta na transposição e tradução do conhecimento cientifico para uma forma de comunicação popular, visível e compreensível.

(texto do autor)